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de infantaria de ordenanças. Casando com uma patrícia, retirou-se para uma rica fazenda às margens do Paraguaçu, perto da Cachoeira, onde fez vida de cavalheiro agricultor, dando-se também às letras. Além de um romance em verso, que parece haver merecido pouca estimação, deu à luz, em Lisboa, duas obras pequenas, e de assunto mais de reportagem que de literatura, Breve compêndio e narração do fúnebre espetáculo que na cidade da Bahia se viu na morte d'El-Rei D. Pedro II, em 1709, e Sumário da vida e morte da Ex.ma Sr.ª D. Leonor Josefa de Vilhena e das exéquias que se celebraram à sua memória na cidade da Bahia, em 1721. Com estas obrinhas teria tomado gosto das notícias da sua terra. A fundação contemporânea da Academia Brasílica dos Esquecidos porventura o estimularia nesse sentido.

Seus sócios deviam «tomar por matéria geral dos seus estudos a história brasileira», segundo dizia o próprio auto da sua fundação. Rocha Pita, que fora dos seus fundadores e dos mais conspícuos, empreendeu escrever a do Brasil, mais cabalmente do que havia sido ainda escrita. Para realizar o seu intento passou-se a Lisboa e aí publicou, no dito ano de 1730, a História da América portuguesa.

Nem pela intuição e sentimento histórico, nem pelo sabor literário, emparelha a História de Rocha Pita com a do Fr. Vicente do Salvador. Está em tudo e por tudo obsoleta, e além da feição por assim dizer oficial da sua composição, é perluxa, enfática e inchada de pensamento e linguagem. Justamente o excessivo floreio de estilo com que foi intencionalmente escrita, e que no-la torna desagradável, fazia-a no seu tempo estimável e foi, não de todo sem razão, estimada.

Escrita em estilo de prosa poética, como se fora um poema em louvor do Brasil, com mais entusiasmo e arroubo