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Racine, Bossuet, Montesquieu, Voltaire, tratados e dicionários de história e erudição, as décadas de Barros e Couto, os poetas clássicos portugueses, e também Tasso, Milton, Metastásio, Quevedo, afora dicionários de várias línguas, obras de matemáticas, ciências naturais e físicas e outras.

Ainda em antes de findar o primeiro quartel do século, começaram a manifestar-se em Minas sintomas de descontentamento da metrópole e de hostilidades aos seus propostos à governança da capitania. Contam-se desde então alguns alvorotos e motins, pomposa e impropriamente apelidados de revoltas e até de revoluções pelos historiadores indígenas, contra o governo colonial. Reprimidos alguns com a bruta violência com que em todos os tempos todos os governos presumem impedir o natural levante contra os seus desmandos, a sua repressão apenas serviu para desenvolver ou acirrar a animadversão do brasileiro contra o reinol. Dos governadores da capitania os houve fidalgos da melhor nobreza portuguesa, homens de corte e de sociedade, talvez com os vícios e defeitos nessas comuns, mas em todo caso com as prendas que eram o apanágio de sua classe. Acompanhavam-nos outros gentis-homens, que com os filhos da terra mais graduados por educação, haveres, famílias e postos, faziam em Vila Rica, a pitoresca capital de Minas, uma pequena corte. Festas de igreja, freqüentes e pomposas, cavalhadas, canas e outros divertimentos do Reino para aqui, a que acudiam os vizinhos desde Diamantina, Mariana e mais longe, e animavam.

Mais numerosa e mais densa que nenhuma outra do Brasil, a população de Minas, aquela ao menos que tinha Vila Rica por centro imediato, sentia-se melhor o contacto recíproco,