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duas feições distinguem os sonetos de Cláudio Manuel da Costa: um vago perfume camoniano e uma sensibilidade particular porventura a primeira manifestação da nostalgia brasileira, depois repetida por tantos poetas nossos. São amostras destes dois traços os sonetos:

Se os poucos dias que vivi contente foram bastantes para o meu cuidado, que pode vir a um pobre desgraçado que a idéia do seu mal não acrescente!

Aquele mesmo bem, que me consente, talvez propício, meu tirano fado esse mesmo me diz, que o meu estado se há de mudar em outro diferente.

Leve pois a fortuna os seus favores; eu os desprezo já; porque é loucura comprar a tanto preço as minhas dores:

Se quer que me não queixe, a sorte escura ou saiba ser mais firme nos rigores ou saiba ser constante na brandura.

Onde estou! Este sítio desconheço; quem fez tão diferente aquele prado! tudo outra natureza tem tomado; e em contemplá-las tímido esmoreço.

Uma fonte aqui houve; eu não me esqueço de estar a ela um dia reclinado: ali em vale um monte está mudado: quanto pode dos anos o progresso!

Árvores aqui vi tão florescentes que faziam perpétua a primavera: nem troncos vejo agora decadentes.

Eu me engano: a região esta não era: mas que venho a estranhar, se estão presentes, meus males com que tudo degenera!