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trazer e onde quisera aclimatar aquelas musas, e o seu cortejo clássico de «ninfas, o pastor, a ovelha, o touro»:

Musas, canoras Musas, este canto vós me inspirastes, vós meu tenro alento erguestes brandamente àquele assento. Que tanto, ó Musas, prezo, adoro tanto.

Lágrimas tristes são, mágoas e pranto, tudo o que entoa o músico instrumento; mas se o favor me dais, ao mundo atento em assunto maior farei espanto.

Se em campos não pisados algum dia entre a Ninfa, o Pastor, a ovelha, o touro, efeitos são da vossa melodia;

que muito, ó Musas, pois, que em fausto agouro cresçam do pátrio rio à margem fria a imarcescível hera, o verde louro!

Sem embargo dos seus poemas de intuitos nativistas, como a Fábula do Ribeirão do Carmo e Vila Rica, faltou-lhe infelizmente talento para desta transplantação fazer melhor do que instalar na paisagem e no ambiente americano os estafados temas e motivos da cansada poesia pastoril portuguesa, sem ter ao menos, como Gonzaga, alguma forte paixão que os reviçasse. Influenciado sem dúvida pelo exemplo de Basílio da Gama e de Durão, compôs o seu poema brasileiro, se não pelo sentimento e inspiração, pelo assunto, Vila Rica. É uma obra medíocre, indigna do poeta dos Sonetos e ainda de outros versos, a qual apenas revê o apego à tradição que fazia anacronicamente viver esse gênero na literatura da nossa língua.

Vernáculo nesta e correto na forma e estilo poético de fino e delicado sentimento, com tons bastante pessoais, apenas um todo nada gongórico, Cláudio Manoel da Costa é, todavia, julgando-o pelo conjunto da sua obra, o mais árcade dos árcades brasileiros. Não tem alguma emoção