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se um bom poeta, de seu natural fácil e fluente. Não lhe falta imaginação nem conceito. Infelizmente o motivo principal de sua inspiração no que dele nos ficou, versos na maior parte de encômios a magnates, versos de cortesão, lhe haveria prejudicado dotes que mais se adivinham que se sentem. Passa como um dos seus melhores sonetos A saudade, feito depois da sua sentença de morte. Não lhe seriam inferiores A lástima, composta «na masmorra da Ilha das Cobras, lembrando-se da família», nem o feito à Rainha D. Maria I suplicando-lhe a comutação da pena de morte, se não houvesse em ambas demasiados traços da ruim poética do tempo, empolada e campanuda. Comparticipa Alvarenga Peixoto do sentimento comum a estes poetas de afeto, pode mesmo dizer-se de ufania, da terra natal, unido a um sincero apego a Portugal. Manifesta-se na maior parte dos poemas que lhe conhecemos, particularmente na ode à Rainha D. Maria I, da qual se poderia inferir ter havido aqui a esperança de que ela cá viesse, em visita à sua colônia:

Se o Rio de Janeiro só a glória de ver-vos merecesse já era vosso mundo novo inteiro

[...]

Vinde, real senhora honrar os nossos mares por dous meses vinde ver o Brasil que vos adora

[...]

Vai, ardente desejo, entra humilhado na real Lisboa sem ser sentido do invejoso Tejo aos pés augusto voa, chora e faze que a mãe compadecida dos saudosos filhos se condoa

[...]

Da América o furor perdoai, grande augusta; é lealdade são dignos de perdão crimes de amor.

Este sentimento, que é manifesto em todos os poetas,