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pelas reformas pombalinas, e celebrando estas reformas. Franco é o mérito literário deste poema. Não é, todavia, despiciendo como documento de um novo estado de espírito, mais literal e desabusado, da sociedade portuguesa sob a ação de Pombal, e do caminho que havia feito em espíritos literários brasileiros o sentimento pátrio, manifestado no poema em alusões, referências, lembranças de cousas nossas. Quando foi do dilúvio poético da inauguração da estátua eqüestre de D. José I, em 1775, Silva Alvarenga o engrossou com um soneto e uma ode. O mesmo motivo inspirou-lhe ainda a epístola em alexandrinos de treze sílabas Ao sempre augusto e fidelíssimo rei de Portugal o Senhor D. José I no dia da colocação de sua real estátua eqüestre. Era então estudante, e tal se declara no impresso da obra. Dois anos depois vinha a lume o Templo de Netuno, poemeto (idílio) de sete páginas em tercetos e quartetos, muito bem metrificados, com que, ao mesmo tempo que celebra a aclamação da Rainha D. Maria I:

Possa da augusta filha o forte braço por longo tempo sustentar o escudo, que ampara tudo o que seu reino encerra e encher de astros o céu, de heróis a terra.

se despede sinceramente sentido de seu amigo o patrício Basílio da Gama:

Ainda me parece que saudoso te vejo estar da praia derradeira cansando a vista pelo mar undoso.

Sei que te hão de assustar de quando em quando os ventos, os vários climas e o perigo de quem tão longos mares vai cortando.

Vive, Termindo, e na inconstante estrada pisa a cerviz da indômita fortuna, tendo a volúbil roda encadeada aos pés do trono em sólida coluna.