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Com este conselho baixamente prático ao recém-protegido de Pombal para que angarie também o patrocínio da rainha de pouco aclamada, e que ia ser o centro da reação contra aquele, termina Silva Alvarenga o seu poema. Antes de lhes exprobrarmos a vileza do sentimento, consideremos que era muito menor e muito mais desculpável do que iguais que agora vemos em todo o gênero de plumitivos. Ele procedia consoante o tempo e o uso geral de poetas e literatos, que ainda não tinham outro recurso que a proteção dos poderosos. Precede imediatamente esta quadra menos digna, e acaso por isso mesmo menos bela, o formoso e sentido terceto:

Se enfim respiro os puros climas nossos, no teu seio fecundo, ó Pátria amada, em paz descansem os meus frios ossos,

que revê o sentimento do amor da terra natal comum a todos estes poetas, que todos o manifestaram de forma a lhe sentirmos o trabalho de transformação do limitado nativismo, se não apenas bairrismo, de seus predecessores em um patriotismo mais consciente e amplo. Vinha este poema assinado por «Alcindo Palmireno, árcade ultramarino» e era endereçado a «José Basílio da Gama, Termindo Sepílio». Estas alcunhas arcádicas, e outras que tomaram vários poetas do mesmo grupo, como a de Dirceu, de Gonzaga, não indicam nos que as traziam a qualidade de associados de alguma das sociedades literárias então existentes com o nome de Arcádias. Somente de Cláudio e Basílio se pode crer que a tais sociedades pertencessem. Na maioria dos outros, do grupo mineiro ou não, era apenas um apelido genérico. Arcádia quer dizer assento de poetas, e por extensão poesia, e, em Portugal e aqui, a poesia na época vigente. Árcade valia, pois, o mesmo que poeta. «Árcade ultramarino» não dizia mais que poeta do ultramar, sem de forma alguma indicar a existência no Brasil dessas sociedades, que de fato nunca aqui existiram.

Foi Silva Alvarenga um dos mais fecundos e melhores