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em castelhano e francez; traduziu Voltaire e cantou a Milton. Basilio da Gama tambem traduziu Voltaire.

Conheceram-se, trataram-se, foram camaradas ou amigos quasi todos. Ligou-os o sentimento da patria comum, o mesmo amor as letras, a irmandade do estro, e mais, o mesmo espirito liberal, comum a todos e manifesto na obra de todos. Silva Alvarenga compreendia e admirava a Basilio da Gama e o cantou com entusiasmo, pode dizer-se patriotismo. Claudio da Costa, com igual entusiasmo, consagrou uma ode aos arcades seus patricios e endereçou poemas a Alvarenga Peixoto. Serviu tambem de centro não só a este e a Gonzaga, mas a outros menores que poetavam em Vila Rica, que todos, segundo a veridica tradição, lhe submetiam ao saber e experiencia os seus versos. Gonzaga alude carinhosamente em suas liras a Claudio e a Alvarenga Peixoto, seus intimos. Naquela epoca de acesa briga de poetas, se não sabe que hajam os nossos entre si brigado.

Todas essas coincidencias e circunstancias não foram certamente alheias á constituição deste grupo de poetas e á feição e distinção que os assinalam na nossa literatura e ainda na poesia portugueza. Para alguns deles ao menos, a sua justa celebridade foi grandemente ajudada, sem quehra aliás no seu merecimento, pelos desgraçados sucessos em que foram envolvidos. Aureolando-os de martirio, não serviriam pouco, e justo é que assim fosse, á sua gloria de poetas.

 

A tres destes poetas, Claudio da Costa, Alvarenga Peixoto e Tomaz Gonzaga, tem sido atribuido o poema satirico das Cartas Chilenas, composto em Minas, na segunda metade do seculo XVIII. É mais que uma satira, uma diatribe contra o governador D. Luiz da Cunha Menezes e sua administração. Ele figura como o heroe burlesco sob o pseudonimo de Fanfarrão Minesio. Fingem-se-lhe a acção e sucessos passados em Santiago do Chile, nomes que, conforme já notara Varnhagen, cabem no verso tanto como Vila Rica e Minas.