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sua vaidade malferida, e que ele não procura dissimular. Soam nelas queixas, reproches, imprecações e brados pela liberdade que ele próprio, de essência despótico, recusara aos seus antagonistas quando no poder. E mais, sem embargo de queixas e exprobrações que chegam à negação da pátria,

Morrerei no desterro em terra estranha, que no Brasil só vis escravos medram: para mim o Brasil não é mais pátria, pois faltou à justiça.

Vivíssimo amor dela e fervorosos anseios por ela. Ainda quando, por distrair-se das suas angústias de repúblico despeitado, recorre aos prazeres reais ou imaginários de que Baco era o patrono clássico, o pensamento saudoso e amargurado se lhe volve à pátria distante:

Em bródio festivo mil copos retinam; que a nós não nos minam remorsos cruéis; em júbilo vivo juremos constantes de ser como dantes à pátria fiéis [...] Gritemos unidos Em santa amizade Salve, ó liberdade! E viva o Brasil! Sim, cessem gemidos, que a pátria adorada veremos vingada do bando servil.

A sua forte cultura, desempeçada do caturrismo português por longo comércio com a melhor da Europa, e aliviada do aparelho escolástico e clássico pela sua paixão, deu-lhe à expressão poética mais calor, mais vida e movimento