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do que tinha a do tempo. Há versos seus que, pela liberdade e personalismo da sua inspiração, pelo subjetivismo dos sentimentos, exuberância usual da expressão e despejo de apetites, como que aventam já o Romantismo. A sua ode A Natureza, no seu sincretismo do pseudoclássico com o que se chamava romântico nas terras por onde José Bonifácio peregrinou, é exemplo e testemunho de que nele a nova corrente literária começava, ainda a despeito seu, a influir. Lembre-se que José Bonifácio traduziu para nova língua, em verso, o pseudo Ossian, um dos ídolos do Romantismo.

Manifestações patrióticas como as de José Bonifácio, mas sem a vibração das suas, são aliás comuns na poesia desta fase. Raro será dos citados o poeta em que se não deparem. Ainda portugueses pela retórica, são já brasileiros pelo coração. Vimos como Caldas Barbosa, predecessor imediato desses poetas, não obstante as condições em que se lhe desenvolveu o engenho e em que poetou, conservou um íntimo sentimento da sua terra e espontaneamente o exprimia. O poema de Fr. Francisco de S. Carlos superambunda de manifestações do mesmo sentimento. Joaquim Lisboa consagra à terra natal uma descrição em verso, da qual aliás só se salva a intenção. Bartolomeu Cordovil celebra em seus poemas as cousas e melhorias do seu Goiás. Natividade Saldanha, esse mais que todos, canta as glórias do seu Pernambuco e os seus heróis, comparando-os aos da poesia e história clássicas. De envolta, celebrando o Brasil, proclama aos brasileiros:

Ó jovens brasileiros, descendentes de heróis, heróis vós mesmos pois a raça de heróis não degenera, eis o vosso modelo: o valor paternal em vós reviva a pátria que habitais comprou seu sangue, que em vossas veias pulsa. Imitai-os, porque eles no sepulcro vos chamem com prazer seus caros filhos.