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na sua vulgaridade uma impressão exata da copiosa, desigual e disforme obra do douto e laboriosíssimo escritor que foi Cairu. Consta-lhe a produção impressa ou manuscrita de setenta e sete números de obras maiores ou menores de direito, economia política ou social, história, questões do dia e públicas, didascálica, jornalismo, polêmica, pedagogia, moral. Como composição, fatura, estilo, esta produção é irregular, desigual e ainda extravagante e disparatada, revendo à pressa e até à precipitação do trabalho, a excitação ou a paixão do momento, o produto de ocasião. A literatura dela só podia aproveitar pequeníssima parte, a História dos principais sucessos políticos do Brasil por exemplo, a Vida de Wellington e pouco mais. Esta mesma, porém, carece de predicados literários que a recomendem à nossa estima. Em todos os gêneros produtos das circunstâncias, as obras de Cairu não sobrevivem às que as produziram.

Mariano José Pereira da Fonseca, quase somente conhecido pelo seu título de marquês de Maricá, vinha do tempo dos últimos vice-reis do Brasil, um dos quais o Conde de Resende, sob a inculpação de inconfidente, o teve preso por mais de dois anos. No vice-reinado de Luís de Vasconcelos fundaram alguns homens de estudo e letras do Rio de Janeiro, o doutor Manoel Inácio da Silva Alvarenga, mestre régio de retórica e conhecido poeta da plêiade mineira, João Marques Pinto, mestre régio de grego, o médico Jacinto José da Silva, o nosso Mariano José Pereira da Fonseca e outros letrados, uma sociedade literária. As reuniões periódicas destes homens de letras, em tempos em que ainda estava fresca a lembrança da chamada Conjuração Mineira,