Página:Historia da literatura brasileira (Verissimo, 1916).pdf/215

Wikisource, a biblioteca livre

No mesmo ano em que, com 21 de idade, estreara com as Poesias (1832), partiu Magalhães para a Europa, em viagem de instrução e recreio. Para ser doutor, título aqui indispensável de recomendação, formara-se antes em medicina no Rio de Janeiro. Quatro anos depois apareciam em Paris os Suspiros poéticos e saudades.

Nesse período percorrera a França, a Bélgica, a Itália, a Suíça. Não foi grande a modificação que o contato de cousas novas e sugestivas operou na sua índole poética. Em suma os Suspiros poéticos, acolhidos e saudados como uma renovação literária, não se distinguem com tal relevo das Poesias do ano de 32, que sem mais exames possamos atribuir-lhe aquele efeito. Teve-o entretanto.

As formas poéticas eram outras, já a dos poemas soltos não sujeitos a uma nomenclatura preestabelecida. Bania o poeta, ou ao menos olvidava, as odes com as suas repartições clássicas, e o resto daquelas categorias, e quando se endereçava aos amigos não mais lhes trocava os nomes por apelidos arcádicos, como nas Poesias avulsas. O soneto, forma estrófica de que os árcades usaram e abusaram, e numerosos na primeira coleção, desaparece totalmente desta, onde não se nos depara nenhum. O Romantismo foi parco em sonetos. Há mais variedade, mais liberdade nas formas métricas e quase nenhum socorro aos recursos mitológicos ou clássicos. O próprio título da coleção indica uma subjetividade, um sentimentalismo maior, e da leitura verifica-se que é de fato maior e influi na emoção dos próprios poemas objetivos. O poeta refere e reporta a si, o que é bem romântico, todas as comoções que lhe vêm dos aspectos da natureza, da contemplação dos sucessos humanos, das meditações sobre temas e ficções abstratas. Mistura-lhes constantemente a sua nostalgia, o seu pesar, os sofrimentos que experimenta ou cisma. Da biografia conhecida de Magalhães não parece tenha sido desventurado