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ou tido grandes penas na vida. Ao invés, quanto dele sabemos, foi um mimoso da fortuna. Dos seus poemas, entretanto, resultaria a presunção contrária. É talvez ele quem inaugura na poesia brasileira o estilo lamuriento dos que já algures chamei de nostálgicos da desgraça, moda poética que tanto floresceu aqui. Não achou, no entanto, a sua dor, talvez por não ser verdadeiramente sentida, nenhuma expressão bastante forte para nos comover também a nós. O abstrato do seu estilo, porventura a sua característica, sob o aspecto do estilo, concorreu ainda mais para diminuir-lhe a intensidade da emoção já de si, parece, pouco profunda e o calor da expressão, apenas altieloqüente. Daí, e da prolixidade, outra feição do seu poetar, o desmaio e o banal da sua poesia, apesar dos seus propósitos filosóficos. É que ele lhe pôs não os seus íntimos sentimentos atuados pela sua filosofia, as suas emoções apenas influídas por ela, senão os próprios ditames da escola e do livro, e levou para a sua arte intenções pedagógicas. Os passos de inspiração filosófica dos seus poemas são puramente didáticos e não a expressão de uma simples emoção poética:

Não, o medo não foi quem sobre a terra os joelhos dobrou ao homem primeiro, e as mãos aos céus ergueu-lhe. Não, o medo não foi o criador da Divindade! Foi o espanto, o amor, a consciência, e a sublime efusão d'alma e sentidos, viu o homem seu Deus por toda a parte, e a sua alma exaltou-se de alegria.

Todo esse poema O Cristianismo, cujos são estes desenxabidos versos, é didático, sem que um sentimento poético, inspirado embora do religioso, se nele manifeste de maneira a tocar-nos. Noutro seu poema, muito celebrado, todo ele justificativo deste conceito, se nos deparam trechos como o seguinte, antes versos de professor de filosofia que de poeta filósofo: