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Assaz, oh Deus, o homem sobre a terra revela teu poder, tua grandeza, a Razão, és tu mesmo; a liberdade, com que prendaste o homem, não, não pode dominar a Razão, que te proclama! Se muda para mim fosse a Natura, na Razão que me aclara, e não é minha, senhor, tua existência eu descobrira.

Em arte não basta não imitar para ser original. Não se descobre em Magalhães imitações, nem predileção por algum dos mestres do Romantismo. Mas também se lhe não lobriga originalidade. Se alguma tinha, prejudicou-a a sua filosofia de escola, o seu demasiado respeito das tradições literárias, e obliterou-lha o abstrato e o fluido do seu estilo poético. A diplomacia, carreira em que apenas estreado em letras entrou, com a sua gravidade protocolar, a sua artificialidade, a sua futilidade, a sua compostura de mostra, não devia ter pouco contribuído para sufocar em Magalhães, ou amesquinhá-los, os dons poéticos mais vivazes que porventura recebera na natureza. Influências de filosofia escolástica e livresca e do decoro da situação social fazem-no versejar os mais triviais lugares-comuns:

Um Deus existe, a Natureza o atesta: a voz do tempo a sua glória entoa, de seus prodígios se acumula o espaço; e esse Deus, que criou milhões de mundos, mal queira, num minuto pode ainda criar mil mundos novos.

Se a sua emoção poética, a sua inspiração, carece de profundeza, pobre é também a sua expressão. Raro se faz nalguma forma sintética, conceituosa ou intuitiva. Por via de regra se derrama em um longo fraseado, com exclamações e apóstrofes. Roma lhe não inspira senão banalidades da sua história corriqueira e dos seus mais triviais aspectos: