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Guardai os louros vossos, guardai-os, sim, qu'eu hoje os renuncio. Adeus ficções de Homero! Deixai, deixai minha alma em seus novos delírios engolfar-se, sonhar com as terras do seu pátrio Rio; só de suspiros coroar-me quero, de saudades, de ramos de cipreste; só quero suspirar, gemer só quero. E um cântico formar co'os meus suspiros.

     Assim pela aura matinal vibrado
     o Anemocórdio, o ramo pendurado,
     em cada corda geme,
     e a selva peja de harmonia estreme.

Renunciando às musas clássicas, é, entretanto, na sua língua que lhes refoge. Distingue o Magalhães dos Suspiros poéticos da geração poética precedente e do mesmo Magalhães dos versos de 32, outra feição muito do Romantismo, a soberba do poeta, o senso da nobreza da sua missão, a alevantada ambição que se lhe gera deste pressuposto. São manifestações do individualismo romântico, embora nele contidas, mais discretas do que acaso cumpria, sem os entusiasmos, transbordantes até à descompostura, de muitos dos corifeus da escola. Leiam-se o Vate, A Poesia, A Mocidade. Este poema sobretudo revê, e não sem intensidade, aquela «tragédia da ambição» que, segundo Brandes, se apresentava na alma da juventude romântica francesa. Como quer que seja, esse grosso volume de poesias teve, de 1836 a 1865, três edições, fato aqui extraordinário.

Que no fundo de Magalhães, porém, havia permanecido o árcade retardatário das Poesias de 1832, provam-no os poemas posteriores a 1836, publicados sob o título de Poesias várias, como segunda parte das Poesias avulsas, em 1864. Neles volta à poética apenas esquecida nos Suspiros. Prova-o mais, de desde o título, a sua posterior coleção de versos, Urânia, em que tudo lembra mais a poética obsoleta que a em voga.