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A inspiração poética, como a forma que a realiza, ou o estilo, é função do temperamento do poeta que a condiciona. O de Magalhães era evidentemente mais consoante ao pensamento geral e à poética dos últimos cinqüenta anos, do que com as idéias e a poética do seu tempo. Pode ser que, como ele próprio insinua através de Wolf, fosse o Romantismo alemão, simplesmente como expressão do sentimento nacional, como revolta contra a servidão de todo o mundo ao classicismo francês, que lhe atuasse o estro. Em todo caso, sob uma forma comedida e reportada, revendo o seu medíocre entusiasmo pelo movimento, cujo promotor e chefe, mais por força das cousas quer por íntima persuação, foi aqui.

Se Magalhães houvera ficado nos Suspiros poéticos, talvez fosse apenas um nome a mais no comprido rol dos nossos poetas. Quaisquer que fossem os méritos dessa coleção, não eram tais que só por ela pudesse o autor tomar na literatura brasileira a importância que alcançou. Deu-lha mui justamente o volume e a variedade da sua obra, provando nele capacidades que, sem serem sublimes, eram menos comuns, aptidões literárias diversas e vocação literária incontestável.

Magalhães, e o seu exemplo influiria os seus companheiros e discípulos da primeira geração romântica, sentiu que o renovamento literário de que as circunstâncias o faziam o principal promotor, carecia de apoiar-se em um labor mental mais copioso, mais variado e mais intenso, do que até então aqui feito, e que uma literatura não pode constar somente de poesia, e menos de pequenos poemas soltos. Com esta intuição, senão inteligência clara do problema, que para ele e os jovens intelectuais seus patrícios se estabelecia, Magalhães colaborou em revistas com ensaios diretamente interessantes ao movimento literário e ao pensamento brasileiro, criou, com Martins Pena, o teatro nacional, iniciou, com Teixeira e Sousa, o romance, reatou com os Tamoios a tradição da poesia épica do Caramuru e do Uraguai, fez etnografia e história brasileiras,