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deu à filosofia do Brasil o seu primeiro livro que não fosse um mero compêndio, e ainda fez jornalismo político e literário, e crítica. Pela sua constância, assiduidade, dedicação às letras, que a situação social alcançada no segundo reinado, ao contrário do que foi aqui comum, nunca lhe fez abandonar, é Magalhães o primeiro em data dos nossos homens de letras, e um dos maiores pela inspiração fundamental, volume, variedade e ainda mérito da sua obra. Pode dizer-se que ele inicia, quanto é ela possível aqui, a carreira literária no Brasil, e ainda por isso é um fundador.

Os preconceitos pseudoclássicos de Magalhães e a sua índole literária, sempre mais arcádica que romântica, levaram-no no teatro à tragédia, na poesia ao poema épico. Em ambos os casos inspirou-o o espírito nacionalista da época, o propósito de fazer literatura nacional, de assunto e sentimento. Declara ele próprio o seu desejo de encetar a carreira dramática com um assunto nacional. A sua estética confessada no prefácio da tragédia de Antônio José lhe oscila entre «o rigor dos clássicos e o desalinho dos românticos». Como eclético de temperamento e de filosofia, admirador fervoroso de Cousin, Magalhães toma a posição soberba de um artista alheio e superior a escolas, emancipado. «O poeta independente, diz ele no seu magro Discurso sobre a história da literatura do Brasil, citando Schiller12, não reconhece por lei senão as inspirações de sua alma, e por soberano o seu gênio.» Gênio é uma palavra de que Magalhães abusava, metendo-a até um passo onde forçosamente se referia a si próprio. Infelizmente, gênio não tinha nenhuma, e a postura de poeta independente que alardeava não lhe calhava ao modesto engenho. Era a formação pseudoclássica do seu espírito, consoante com a sua índole literária, e o seu ecletismo filosófico que lhe impunham