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essa atitude. O próprio título de tragédia que deu às suas peças de teatro contrastava o parecer do Romantismo, que em nome da liberdade da arte, e da verdade humana, refugava a velha fórmula clássica.

O renovador do teatro, e simultaneamente principal fautor do Romantismo português, Garrett, não por simples imitação, mas com razões excelentes, chamou ao seu admirável Frei Luís de Sousa de «drama», não obedeceu à regra dos cinco atos e escreveu-o em prosa, porventura a mais bela que jamais se fez em nossa língua. Magalhães, que tem sobre Garrett o mérito da prioridade na introdução do teatro moderno em português, ao invés deliberadamente chamava à sua de tragédia, punha-lhe os cinco atos clássicos, embora para isso tivesse de derramar a composição, e fazia-a em verso, segundo a fórmula consagrada. Distinguem-na, porém, do mesmo passo revendo a influência do Romantismo, o assunto moderno e nacional, a familiaridade da expressão apesar do verso clássico, e o pensamento liberal que a inspira, não obstante o catolicismo do autor. Não será o Antônio José, sob o puro aspecto literário e estético, uma perfeita ou sequer notável obra d'arte, mas é sem dúvida um documento muito apreciável da capacidade do poeta, e não de todo sem força dramática ou beleza de expressão. E, o que muito importa, no conjunto da nossa literatura dramática, sobre a iniciar, não é despecienda. Sente-se ainda que é uma obra feita de inspiração. Põe-no de manifesto o contraste com o Olgíato, obra prolixa, difusa e declamatória. O Otelo é apenas a tradução em verso da incolor tragédia do pseudoclássico francês Ducis, a qual nesta dinamização já nada conserva da fortíssima emoção shakespeariana.