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Se houvéramos de aceitar a precedência cronológica como única ou principal indicação de prioridade literária -que antes deve ser julgada pela valia e influxo da obra, a Teixeira e Sousa caberia também a primazia na introdução do nosso segundo indianismo. Com efeito, de parte algumas passageiras referências a assuntos indígenas, ou episódicas apresentações de índios em alguns poemas da fase imediatamente anterior ao Romantismo, é ele o primeiro a fazer do nosso selvagem tema de uma ficção em verso e a tomar índios para suas personagens principais nos Três dias de um noivado, «poema romântico» de que a Minerva Brasiliense publicou fragmentos em 1843 e que veio a lume em 1844. Que o inspirara ou estimulara a invenção de Chateaubriand do indianismo na literatura francesa com a sua Atala, fornece ele próprio um documento na seguinte estrofe do seu poema:

Tu que de ermos ásperos, inóspitos do Grão Meschacebeu viste os arcanos; que debuxaste dos agrestes íncolas a par de usos seus, beleza egrégia na melindrosa virgem das palmeiras, com sublime pincel, bardo sicambro, tua Atala tão gentil, tão pura e meiga, perdoa, inda era menos que Mirília.

É que, sob a influência do Romantismo europeu, em revolta contra o classicismo, o indianismo se apresentava à nossa mente revoltada contra a hegemonia literária portuguesa, que era o nosso classicismo, como o nosso natural recurso de reação espiritual nacionalista. Foi antes o estímulo político da Independência que a ação de nossos escritores uns sobre os outros que originou aqui o indianismo romântico e o generalizou. Ao mesmo tempo que Teixeira e Sousa escrevia, talvez ainda em Itaboraí, esse poema já indianista de inspiração, assunto e sentimento (1842-43), Gonçalves Dias, segundo informe fidedigno no seu biógrafo A. H. Leal, compunha as poesias americanas