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fez também poesia americana, cantou os índios, pôs em verso cenas e episódios da nossa história ou das nossas tradições, e, até, com pouco engenho e nenhum sucesso, tentou a naturalização da balada, forma poética por sua singeleza absolutamente antipática à gente, como a portuguesa e a nossa, de alma pouco ingênua e que de raiz ama a eloqüência da poesia. Em Norberto se exagera o espiritualismo sentimental de Magalhães, e o seu maneirismo poético. Além dos portugueses e brasileiros lê o pseudo-Ossian, Lamartine, George Sand (ainda então M.me Du Devant, como a cita), A. de Vigny, Delavingne e Chateaubriand, Lope de Rueda, Victor Hugo, Parny, Ducis, Shakespeare. O alimento romântico não lhe tira toda a substância clássica, e, cedendo-lhe, escreve também uma tragédia em verso, em cinco atos, respeitando deliberadamente as regras aristotélicas: Clitemnestra. Das peças que escreveu Norberto, parece que a única representada, em 1846, e por João Caetano, foi Amador Bueno ou a fidelidade paulistana, em 5 atos. Também se representaram traduções suas do Tartufo, de Molière, e do Carlos VII, de Dumas pai, segundo a informação pouco segura de Sacramento Blake.

Noberto foi mais o criador, se não do romance brasileiro da ficção novelística em prosa aqui. A sua novela, aliás por ele mesmo chamada de romance, As duas órfãs, foi publicada em 1841 (8.º, 35 págs.), dois anos portanto antes do Filho do pescador, de Teixeira e Sousa, que é de fato pelo desenvolvimento e volume o primeiro romance brasileiro. Em 1852 reuniu Norberto essa e mais três novelas sob o título, impróprio quanto ao primeiro termo, de Romances e novelas, num volume em oitavo de 224 páginas. São todas de assunto e inspiração nacional. A intuição que Norberto tinha do romance acha-se expressa na sua notícia sobre Teixeira e Sousa: «expandir-se pelas minuciosidades das descrições dos quadros da natureza, perder-se em reflexões filosóficas e demorar-se nas trivialidades de um enredo