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feitio do seu engenho. Ao invés dos escritores nossos patrícios dessa fase e ainda dos das subseqüentes, Macedo é um escritor alegre e satisfeito, porventura o único da nossa literatura. A sua arte lhe é um divertimento, e o seu objeto, praticando-a, divertir os seus contemporâneos, sem talvez se lhe dar dos vindouros. Diverti-los moralizando-os, risonhamente, despreocupadamente, sem outro propósito mais alto, tal parece ter sido o seu intuito literário.

A atividade dramática de Macedo vai de 1849 aos últimos anos de 60 ou aos primeiros de 70. É justamente o período de maior florescimento do nosso teatro, que então realmente existiu com autores e atores nacionais, queridos e estimados do público. Entre os últimos havia-os, é certo, portugueses, mas esses, quase todos domiciliados aqui, achavam-se de fato nacionalizados. Macedo concorreu para esse teatro com mais de uma dúzia de peças, dramas em prosa e verso, comédias, óperas, que são o moderno vaudeville, e farsas, mostrando em tudo vocação decidida para o gênero fácil e boa veia cômica. Como esta lhe vinha mais do natural que a dramática, valem as suas comédias mais do que os seus dramas. Na comédia acha-se ele melhor, em um mundo mais natural, mais espontâneo e que lhe é mais familiar e conhecido que o dos seus dramas. Na inspiração e feitura destes, sente-se a influência da dramaturgia francesa contemporânea, como em Lusbela, por exemplo, a da Dame aux Camélias, ou de quejandos modelos. Demasiado românticos de assunto, excessivamente romanescos de composição e estilo, falham mais os seus dramas do que as suas comédias na representação que presumem ser da nossa vida. Não logram também atingir por qualidades superiores de invenção e expressão a generalidade da representação humana que supra ou exceda aquela. Há, porém, neles condições de teatralidade e arte de desenvolvimento e exposição. O principal defeito do nosso teatro, o que mais nos afronta com a sua desnaturalidade, é o diálogo geralmente falso ou em desacordo com o que ouvimos na rua ou na sala. A nossa sociedade, de fato