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ainda não de todo perfeitamente policiada, se não criou já uma sociabilidade, com fórmulas dialogais e de tratamento mútuo entre os interlocutores, que o escritor de outras línguas quase não faz senão reproduzir. Esse tratamento no nosso teatro mostra afrontosa incoerência, que é aliás a mesma dos nossos hábitos de conversação. Querendo evitá-la, Macedo e muitos dos nossos escritores de teatro ainda hoje recorrem ao tratamento da segunda pessoa do plural, que fora do estilo oficial ou do verso, de todo não usamos. E como o ridículo é um pouco o insólito, essas formas ridiculizam as peças que as empregam. O teatro romântico na comédia popular de Pena, de Macedo, de Alencar e de autores de menor nome, deu da sociedade do tempo uma cópia em suma exata. Desmerece, porém, essa representação no drama ou na comédia da nossa alta vida. Esta a viram sempre através de suas impressões de romântica francesa. Daí a pouca fidelidade na pintura dela e nos sentimentos que lhe atribuem. Nunca houve de fato na nossa sociedade preconceitos de raça ou de casta bastante generalizados e profundos, capazes de determinar as situações como a de Lusbela, de Macedo.

Num momento de feliz inspiração escreveu Macedo A nebulosa, poema não só romântico de intenção e de escola, mas nimiamente romanesco. Não obstante a sua sensibilidade lamurienta, e o aparelho ultra-romântico da ação, cheia de maravilhas de mágica, há neste único poema de Macedo grandes belezas de poesia e expressão. Mais de um trecho seu ainda nos impressiona pela força de emoção que lhe pôs o poeta. Mas ainda para o tempo desmasiava-se o poema em indiscretos apelos ao patético e sentimentalidade que fazem que hoje não o leiamos sem enfado.

Concomitantemente com estes principais representantes da nossa primeira fase romântica, poetaram aqui outros muitos sujeitos, como os fluminenses Joaquim José Teixeira (1822-1884), José Maria Velho da Silva (1811-1901), Antônio Félix Martins (1812-?), José Maria do Amaral (