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Então sentiu brotarem na sua alma Sonhos de puro amor, sonhos de glória Sentiu no peito um mundo de esperanças, Sentiu a força em si - patente o mundo.

Em 1845 formado em Direito, regressou à sua província. Foi à terra natal que deixou logo «ralado de desgostos, por motivos que se não declara», informa discretamente um seu grande amigo e amoroso biógrafo. Esses motivos seriam de ordem doméstica e provenientes da coexistência da mãe e da madrasta, que aliás parece-lhe fora caroável. A entristecer-lhe o ânimo já de raiz e das circunstâncias de sua vida melancólico, a amargurar-lhe a alma e travar-lha de dissabores, que a sua sensibilidade de poeta e de valetudinário exagerariam, concorreram mais as condições de penúria e dependência em que, graças à bondade e comiseração de patrícios, amigos raríssimos, lograra completar a formatura em Coimbra. Pouco se demorando na capital de sua Província, veio para o Rio de Janeiro em meados de 1846 e aqui publicou os seus Primeiros cantos. Antes publicara apenas um pequeno poema Inocência no trovador de Coimbra e três ou quatro de igual extensão no Arquivo, jornal do Maranhão.

A crítica, tanto a do Rio de Janeiro como a das províncias, acolheu este primeiro livro de Gonçalves Dias com calorosos e merecidos encômios e, o que mais vale e é menos comum, com atilada compreensão do seu valor. O balbucio de Magalhães e Porto Alegre era já em Gonçalves Dias a fala clara, perfeita e melodiosa. Com muito mais harmonia, mais íntimo e mais vivo sentimento, mais espontânea e original inspiração, maior sensibilidade emotiva, havia relevantemente nele dons de expressão muito superiores. Pode dizer-se que aqueles poemas revelam -e os