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Parti, dizendo adeus à minha infância, aos sítios que eu amei, aos rostos caros que já no berço conheci, àqueles de quem, mau grado a ausência, o tempo, a morte e a incerteza cruel do meu destino, não me posso lembrar sem ter saudades, sem que aos meus olhos lágrimas despontem.

Ave educada nas floridas selvas vim da praia beijar a fina areia; subitâneo tufão arrebatou-me, perdi a verde relva, o brando ninho.

Nem jamais casarei doces gorjeios ao saudoso rugir dos meus palmares; porém a branca angélica mimosa com seu candor enamorando as águas, floresce às margens do meu pátrio rio.

E a mesma imagem se repete mais adiante, mostrando a obsessão daquela impressão dolorosa:

Ave educada nas floridas selvas, um tufão me expeliu do pátrio ninho; as tardes dos meus dias vorrascosos não terei de passar sentado à porta do abrigo de meus pais, nem longe dele, verei tranqüilo aproximar-se o inverno e pôr do sol dos meus cansados anos!

O tufão que o expeliu do pátrio ninho foi o casamento do pai com outra mulher que não aquela de quem ele nascera. A dor que lhe envolveu a infância afeiçoou-lhe a índole pessoal e poética e pôs-lhe n'alma a tristeza forte que será a sua marca e o seu encanto. A ela juntaram-se-lhe despertadas ou alvoroçadas pelos gabos desde menino ouvidos ao seu talento, ambições de sobrelevar-se à sua mesquinha condição:

Um dia apareceu um recém-nado, Como a concha que o mar à praia arroja; Cresceu qual cresce a planta em terra inculta, Que ninguém educou, a chuva apenas, Infante viu da roda sepulturas, Em que não atentou;