Página:Historia da literatura brasileira (Verissimo, 1916).pdf/256

Wikisource, a biblioteca livre

agravando a nostalgia que sem dúvida lhe produzia o apartamento da pátria e da mãe, aumentar-lhe-ia a natural dor da perda do pai. No belíssimo poema autobiográfico Saudades, que dedicou à irmã, transpira ainda, não obstante os anos passados, a sua grande mágoa, «essa dor que não tem nome»:

De quando sobre as bordas de um sepulcro anseia um filho, e nas feições queridas dum pai, dum conselheiro, dum amigo o selo eterno vai gravando a morte! Escutei suas últimas palavras, repassado de dor! - Junto ao seu leito, de joelhos, em lágrimas banhado recebi os seus últimos suspiros. E a luz funérea e triste que lançaram seus olhos turvos, ao partir da vida de pálido clarão cobriu meu rosto no meu amargo pranto refletindo o cansado porvir que me aguardava!

Tornou ao Maranhão, mas já em 1840 estava de volta a Portugal matriculado na Universidade de Coimbra. Ou assim nascesse, e é talvez o mais certo, ou as circunstâncias do seu nascimento, aquele golpe precocemente sofrido, a orfandade, o prematuro afastamento da terra natal e das suas mais caras afeições de infância, assim o houvessem feito, foi Gonçalves Dias, não obstante alguns lampejos de bom humor e de jovialidade, uma alma profundamente melancólica e profundamente sensível. Ela se lhe formou ainda em meio das agitações conseqüentes à Independência. Deu-o a mãe à luz quando o pai, por esquivar perseguições que a sua qualidade de português lhe poderia atrair, achava-se foragido nos matos vizinhos de Caxias, habitando uma palhoça, onde Gonçalves Dias nasceu, na carência de qualquer conforto, entre aflições e medos. Deixaram-lhe forte e viva impressão estes primeiros incidentes de sua vida. Di-lo ele à sua irmã naquele poema, uma das suas melhores páginas: