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Capítulo XI

Gonçalves Dias e o Grupo maranhense

Os impulsos de renovação literária dos nossos românticos da primeira hora, Magalhães, Porto Alegre, Norberto, Macedo e outros, os veio perfazer o poderoso talento de Gonçalves Dias. Da poesia genuinamente brasileira, não por exterioridade de inspiração ou de forma ou pela intenção dos temas e motivos, mas pelo íntimo sentimento do nosso gênio com as suas idiossincrasias e peculiaridades, em suma da psique nacional, foi ele o nosso primeiro e jamais excedido poeta.

Gonçalves Dias é nas nossas letras um dos raros exemplos comprobatórios da falaz teoria da raça. Parece que nele se reuniam as três de que se formou o nosso povo. Seu pai era português de nascimento, a mãe aquilo que chamamos no Norte, donde era, cafuza, isto é, o resultado do cruzamento do índio com o negro. Nasceu em Caxias, no Maranhão, em 1823, da união natural de seu pai com aquela boa mestiça, que lhe foi mãe carinhosa. Da terra natal, onde iniciou os estudos de latim com o mestre público local, passou com o pai à capital da Província, seguindo logo ambos daí para Portugal, o pai em busca de saúde, ele de instrução. Pouco depois de ali chegado, morreu-lhe o pai, que já ia muito doente. Com quatorze anos, achou-se Gonçalves Dias só, em terra estranha. Esta circunstância,