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original, se bem que escasso. Foi também um erudito de cousas literárias castiças e exóticas. Coube-lhe reivindicar definitivamente para Portugal a composição original do Palmeirim de Inglaterra, pretendida pela Espanha, já com assentimento de erudição portuguesa. Mas sobretudo foi um tradutor insigne, se não pela eloqüência e fluência, pela fidelidade e concisão verdadeiramente assombrosa, dada a diferente índole das línguas, com que trasladou para o português os dous máximos poetas da antigüidade clássica, não raras vezes aliás emulando-os em beleza e vigor de expressão. Também traduziu Mérope (1831) e o Tancredo (1839), de Voltaire. Assevera o clássico D. Francisco Manuel de Melo que «no pecado de traduções não costumam cair senão homens de pouco engenho». Que não era grande o de Odorico Mendes parece mostrá-lo o fato de não nos haver ele deixado, benemérito de citação e leitura, mais que um poema original, ele que tanto trabalhou e produziu em traduções. Esse poema é o Hino à tarde. Escrito em Portugal e publicado pela primeira vez na Minerva Brasiliense, em 1844, mesclam-se nesta composição o clássico e o romântico, uma inspiração ainda arcádica e européia e sentimentos brasileiros e estilo moderno. É, nada obstante, um dos melhores produtos poéticos do tempo e merece ainda estimado. Já porventura prenuncia Gonçalves Dias pelo tom sentimental do seu lirismo mais subjetivo que o de Magalhães.

Francisco Sotero dos Reis, um ano mais moço que Odorico Mendes, mas seu condiscípulo de humanidades, sem ter tão completa cultura clássica deste, o sobrelevou pela maior amplitude e originalidade de sua obra. Principiou como Odorico Mendes e João Lisboa por jornalista político, conforme era necessário em época em que todo o brasileiro de alguma instrução e capacidade de expressão