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nacional em contraste com o desleixo com que era tratada no resto do Brasil e a parte que ali se dava no mesmo jornalismo político à literatura. Provam-no mais outros fatos. Em 1845, uma sociedade literária, composta de nomes não de todo obscuros nas nossas letras, funda um Jornal de instrução e recreio, que, além de versar assuntos didáticos e pedagógicos, «era revista de literatura amena». Outro grupo de homens de estudo e letras, no qual se encontram alguns do primeiro, fundou no ano seguinte uma Sociedade filomática, a qual também publicou uma Revista e iniciou, antes de ninguém mais no Brasil, as conferências literárias. Caso talvez mais notável, desde 1847 tinha o Maranhão uma imprensa capaz de imprimir com decência que lhe podia invejar a Corte, obras volumosas como os Anais de Berredo. Nessa oficina aprendeu Belarmino de Matos, talvez o melhor impressor que já teve o Brasil, e dela saiu para montar uma própria, onde nitidamente imprimiu bom número de obras, com acabamento então único e ainda hoje raro excedido. Não é menor testemunho deste pendor maranhense a possibilidade ali de livros como os de Sotero dos Reis e de publicações como o Jornal de Timon.

Neste ambiente, por qualquer motivo que nos escapa, literário, apareceu a bela progênie de jornalistas, poetas, historiadores, críticos, eruditos, sabedores que desde o momento da Independência até os anos de 1860, isto é, durante cerca de quarenta, ilustraram o Maranhão e lhe mereceram a alcunha gloriosa de Atenas brasileira. Beneméritos de mais demorada atenção e maior apreço pela sua importância literária e parte em a nossa literatura, são os já mencionados.

Manoel Odorico Mendes, nascido em S. Luís em 1799 e falecido em Londres em 1864, é porventura o mais acabado humanista que já tivemos. À ciência das línguas clássicas, e da sua filologia e literatura, de que deixou prova cabal e duas versões fidelíssimas, embora de custosa leitura, de Virgílio e de Homero, juntava estro poético