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com efeito um só maranhense entre os escritores brasileiros do período colonial.

Entretanto, mal acabado este, estréiam os maranhenses em a nossa literatura e da maneira mais brilhante. Efeito demorado daqueles antecedentes ou simples acaso, isto é, evento, fortuito, cujas causas não podemos deslindar? Antes de ter imprensa, teve o Maranhão, em 1821, um jornal manuscrito, como os faziam os rapazes nos internatos, o qual, em cópias tão numerosas quanto possível, corria a capital. Ainda nesse ano passou a folha manuscrita a impressa, sob o mesmo título de Conciliador maranhense, que revê o generoso intuito de empecer as demasias da agitação nacionalista, já bem começada, contra os reinóis. A partir daí multiplicam-se os jornais na província. Desde 1825 aparecem como publicistas, à frente de jornais, dois daquele grupo de intelectuais, Odorico Mendes e Sotero dos Reis. Outro, quiçá o maior dos quatro, João Francisco Lisboa, é jornalista desde 1832 e o será, com intermitências e sem fazer disso estado, pelo resto da vida. Desde o princípio foi escritor mais zeloso do seu estilo do que costumam ou podem ser jornalistas. Com a Revista aparecida em 1840, inicia Sotero dos Reis o jornalismo literário na sua Província. Era uma «folha política e literária» não só pela declaração do seu subtítulo, mas pela sua matéria e linguagem. «Quando se lhe deparava ensejo, não deixava passar uma obra literária de cunho sem dar dela notícia, assinalando-lhe as belezas e reproduzindo trechos de originais brasileiros ou portugueses ou traduzindo-os que eram em língua estranha». O jornalismo destes homens de letras, talvez nele deslocados, era doutrinal, de alto tom e boa língua.

Quaisquer que tenham sido as suas determinantes, existia já na época da Independência o gosto literário no Maranhão. Prova-o o apuro com que ali se estudava e escrevia a língua