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maranhenses os que menos praticam a colocação brasileira dos pronomes pessoais oblíquos, senão porque a sua pronúncia se avizinha mais da de Portugal? Não se pode mais duvidar que este fato lingüístico é em suma produzido por um fenômeno prosódico.

O Maranhão foi no Brasil um dos bons centros da cultura jesuítica, toda ela particularmente literária. Ali viveu alguns anos da sua vida, pregou vários dos seus sermões, escreveu muitas de suas cartas, participou das suas lutas e contendas o padre Antônio Vieira. Que desde o século XVII havia em S. Luís poetas, embora nenhum nome tenha chegado até nós, mostra-o o fato da existência de devassas contra os homens versistas, autores de sátiras contra os governantes. Bequimão, o cabeça dos motins de 1684, possuía e lia livros de histórias de revoluções. Mais de um dos fidalgos portugueses que governaram o Maranhão, além de Berredo, o autor dos seus Anais, era homem culto e ainda de letras; e de outros funcionários coloniais portugueses como Guedes Aranha, Henriarte, há documentos preciosos do que chamo neste livro literatura de informação. Fosse qual fosse a constituição da sociedade maranhense nos tempos coloniais, tivesse ela no extremo norte a primazia da prosápia, da riqueza ou da cultura, e demais um sentimento cívico mais apurado pelas suas lutas com o estrangeiro invasor, ou brigas intestinas que muitas foram e que, bem como aquelas, poderiam concorrer para lhes aguçar o entendimento, o certo é que nesse período não concorreu o Maranhão sequer com um nome para engrossar o nosso cabedal literário. Não há