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seus serviços na expulsão dos holandeses, foram pelo rei concedidos aos «cidadãos» de S. Luís (e de Belém do Grão-Pará) os privilégios dos do Porto. «Qualquer que fosse, pondera o mesmo historiador, a importância destes privilégios, todos (os moradores) faziam muito empenho em alcançá-los, e nesta matéria, como em tudo o mais, se introduziram pouco a pouco graves abusos. Soldados, criados de servir, mercadores degradados, cristãos novos; uns simplesmente inábeis, outros até infames pela lei, achavam maneiras de introduzir os seus nomes nos pelouros, obtendo assim por uma parte as qualificações de nobreza e o exercício dos cargos da governança, e por outro a isenção do serviço militar na infantaria paga, e nas ordenanças». Desde os seus começos, foi o Maranhão país agrícola, de cultura de gêneros da terra e mais de algodão. Nesta cultura, também desde os seus princípios, empregou numerosa escravaria negra e indígena. A grande propriedade agrícola, mormente quando baseada no trabalho escravo, sempre e por toda a parte criou presunções ou fumos de fidalguia, vida ou aparências de grandeza. Excetuado talvez Pernambuco, foi o Maranhão, em todo o Norte do Brasil, o lugar de mais numerosa escravatura negra, e pela mesma situação de trabalhadores agrícolas onde esta mais maltratada e desprezível se achou. Por motivo ainda daquela real ou supositiva prosápia, foi ali mais vivo do que soía ser no resto do país o preconceito de cor. Mais porventura do que em outra parte do Brasil se conservou estreme acolá a branca, predominando na sua capital até a Independência, e querendo predominar ainda depois dela, o elemento português. Talvez sejam estes os motivos do sotaque maranhense aproximar-se mais do que nenhum outro brasileiro do português, o que explicaria também, sabida a influência da fonética na sintaxe, que ali se tenha falado e escrito melhor do que algures. Por que são os escritores