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quando os acontecimentos do 7 de abril de 1831, alvorotando o país, provocaram em todo ele as lutas e conflitos, não raro mais que de opiniões e de imprensa, entre brasileiros e portugueses ou caramurus, conforme a alcunha que lhes davam os nossos. Estreou nas letras como jornalista político com o Brasileiro, título que na época era um programa, em meados de 1832. Já havia então na capital da Província quatro jornais, «todos quatro muito exagerados e descomedidos na linguagem e desarrazoados nas doutrinas».

Os trechos desse jornal, reproduzidos na biografia de Lisboa pelo autor do Panteon maranhense, testemunham já no novel jornalista de vinte anos o reflexivo pensador, e diserto e vernáculo escritor do futuro Jornal de Timon. Como aos homens de verdadeiros talento literário e alta compostura moral, a política em que entrara como jornalista e com legítimas ambições de repúblico, não quis a João Lisboa. Ele despicou-se-lhe da recusa auspiciosa consagrando-se às letras. Mas no literato sentir-se-á sempre o repúblico malogrado que, sem amesquinhar-se em recriminações, se desforra com humor e ironia do desdém ou da boçalidade do povo soberano e dos seus dignos diretores. Na política e no jornalismo fora sempre um liberal, no mais alto e melhor sentido da palavra, mais adiantado e desabusado até que o comum dos liberais do seu tempo. Também o foi em literatura romanticamente, apesar da gravidade do seu feitio mental, sem temor do sentimentalismo, como quem sabia que, razoado, é ainda o sentimento o melhor estímulo da inteligência e da ação humana. Antes de conhecer pessoalmente a Herculano, e do seu comércio com o maior dos portugueses contemporâneos, já tinha João Lisboa no pensamento e na escrita o estilo em que