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Brasileiro de origem e nascimento, brasileiro pelas mais íntimas fibras de sua alma e pelo mais profundo do seu sentimento, João Lisboa é um dos nossos primeiros europeus, pelas lúcidas qualidades do seu claro gênio, tento da civilização e desdém dos nossos parvoinhos preconceitos nativistas e ainda patrióticos.

Não obstante carecer-lhe da última demão, é a Vida do padre Antônio Vieira ainda o que de melhor se escreveu sobre o famoso jesuíta, com mais exata inteligência do homem e da sua obra de missionário e de político, e de sua época. Não fora algum exagero de liberalismo, é uma obra que se poderia dizer atual.

Nada adiantaria considerar João Lisboa sob outros aspectos do seu variado engenho. Em nenhum desmereceu, quer pela força ou destreza do pensamento, quer pelo vigor ou beleza da expressão. Mesmo como orador, que dizem fora notável, deixou no seu discurso sobre a anistia magnífico testemunho de uma viril eloqüência e da mais bela, sóbria e comovida linguagem oratória. É incontestavelmente um dos escritores que mais ilustram a nossa literatura, dos poucos que hão de viver quando, na seleção que o tempo vai naturalmente fazendo, houverem desaparecido grande parte de nomes ontem e hoje mais celebrados que o seu.

Outros nomes, menos ilustres, mas ainda estimáveis conta o grupo maranhense. São quase todos, se não todos, produto manifesto da influência destes, geração criada na sua admiração e pelo seu estímulo. Dos que têm o seu medalhão no pedestal da estátua de Gonçalves Dias, é Gomes de Sousa o único sem jus à história da literatura. Gomes de Souza (Joaquim) é de 1829 a 1863. Os seus contemporâneos tiveram-no em conta de gênio. Aos dezenove anos, já formado em medicina, foi nomeado, após brilhante concurso,