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pretendendo inconsideradamente manter a sua personalidade de encontro às exigências dessa disciplina. Fazendo-se um nome literário justamente glorioso, à sua nativa altivez, virtude dos tímidos, como ele, e que nele escorregava para a misantropia, juntou-se a incoercível vaidade do literato, tornando-o menos acomodativo na vida pública e mais distante na vida comum. Num meio como o nosso, mal-educado, fácil à camaradagem vulgar e avesso às relações cerimoniosas, a sua atitude reservada, esquiva à familiaridade corriqueira do nosso viver, impediu-lhe de ser pessoalmente popular, como foi, por exemplo, Macedo, seu êmulo e seu contraste. Desarrazoadamente doía-lhe, ao que parece, esta falta de popularidade, à qual aliás, honra lhe seja, nunca sacrificou a sua atitude. Tudo isto lhe serviu entretanto não só à formação da sua personalidade literária, mas de estímulo a um labor que foi um dos mais fecundos das nossas letras. Nascido e criado no sertão, ainda então pouco menos que bravio, do Ceará, onde se não haveriam de todo desvanecido as memórias do antigo íncola, tendo ainda sangue deste nas veias, sentindo portanto mais fortemente essa espécie de brasileirismo caboclo que o Romantismo acoroçoara, comparticipando da ojeriza de família ao conquistador, explica-se que José de Alencar haja serodiamente se rendido ao indianismo, rejuvenescendo na sua inspiração e instaurando-o na prosa brasileira, quando ele se morria na poesia. Certo, são justamente da década de 50 a 60 a Confederação dos Tamoios e os Timbiras, as duas manifestações mais consideráveis do indianismo. Mas, vindo após as «poesias americanas» de Gonçalves Dias, eram apenas um caso de movimento adquirido. Os Timbiras, desde meados de 1847, estavam planejados e o seu primeiro canto escrito. Havendo Gonçalves Dias e outros seus companheiros de geração composto ficções em prosa, nenhuma fizera em cujo assunto