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o elemento fosse o índio, pois não vale a pena lembrar o mesquinho Sumé, de Varnhagen.

É esta a primeira distinção de José de Alencar, introduzir no romance brasileiro o índio e os seus acessórios, aproveitando-o ou em plena selvageria ou em comércio com o branco. Como o quer representar no seu ambiente exato, ou que lhe parece exato, é levado a fazer também, se não antes de mais ninguém, com talento que lhe assegura a primazia, o romance da natureza brasileira. Protraindo-se nele, através de Chateaubriand, o sentimentalismo de Rousseau, exageradamente caroável ao homem selvagem, fez este romance do índio e do seu meio com todo o idealismo indispensável para o tornar simpático. E fá-lo de propósito por contrariar a imagem que dele nos deixam os cronistas e que os seus atuais remanescentes embrutecidos não desmentem. Nesse romance havia de ficar, pela sinceridade da inspiração e pela forma, a mais bela que até então se aqui escrevera, o mestre inexcedível.

Estreou em 1857 com uma obra-prima, que infelizmente não mais se repetiria em sua carreira literária, o Guarani. Na literatura brasileira dá-se freqüentemente o caso estranho de iniciarem-se os escritores com as suas melhores obras e estacionarem nelas, se delas não retrogradam. O fato passou-se com Alencar com o Guarani, com Macedo com a Moreninha, com Taunay com a Inocência, com Raul Pompéia com o Ateneu, com o Sr. Bilac com as suas primeiras Poesias, e se esta acaso passando com o Sr. Graça Aranha com o seu Canaã. As obras-primas, como já foi dito, fazem-nas também o tempo, e o tempo não faltou com esta sua virtude ao romance de Alencar. E legitimamente. Além da imaginação criadora da invenção do drama, da sua urdidura e desenvolvimento, da traça dos episódios, da variedade e bem tecido das cenas,