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romance faltavam-lhe porém dons de aguda observação que o gênero presume e também acaso o gosto de as fazer, pelo que lhe deparariam de antipático e até molesto ao seu idealismo. Só isto impediu de ser aqui o criador dessa forma. Simultaneamente, sem descontinuar fazia -é bem a expressão tratando-se deste idealista da gema- o romance da vida mestiça brasileira, do nosso meio provinciano ou sertanejo, com a sua paisagem, os seus moradores, os seus costumes, as suas atividades peculiares. No Gaúcho (1870), no Tronco do ipê (1871), no Til (1875), no Sertanejo (1876), essa vida é recontada não conforme uma visão natural das cousas, mas segundo o conceito que já fora confessadamente o do Guarani, «um ideal que o escritor intenta poetizar» e cuja prática o arrasta, como em todos eles, a frioleiras ou a monstruosidade de imaginação e de estética. Não obsta que não haja também nesses livros a realidade superior que a mesma poesia cria.

A incapacidade de ficar na realidade média, que a ficção para nos interessar exige, e não só realidade de ação, mas de expressão e de emoção, empeceu Alencar de ser um melhor, mesmo um bom autor dramático. Como tal estreou em 1857, no mesmo ano do Guarani, com o Demônio familiar, que é porventura também a sua melhor obra de teatro. Realmente pouco falta a esta peça para ser, como comédia de costumes e representação de um dos percalços dos nossos de então, uma obra excelente e mal chega a ser uma peça de conta. Para o teatro, principalmente, levou Alencar as predisposições moralizantes que, sobre serem muito do gosto do nosso Romantismo, excetuados os poetas da segunda geração romântica, são da índole do gênero. Todo o seu teatro as revela. Acentua deliberadamente as preocupações morais e didáticas com que nascera o nosso teatro, apenas em Martins Pena atenuadas pelo caráter de farsa do seu e pelo que havia na sua veia de nativo e popular. O fito do teatro, segundo se lhe depreende da obra, deve ser a discussão dos problemas de ordem moral que interessam a sociedade contemporânea. Esta é aliás a concepção