Página:Historia da literatura brasileira (Verissimo, 1916).pdf/288

Wikisource, a biblioteca livre

falta de uma educação literária sistemática houvesse de ser motivo de espontaneidade e originalidade, raras literaturas poderiam mais que a nossa mostrar estas qualidades. Confessa José de Alencar, aliás em páginas bem insignificantes, que após estudos clássicos malfeitos, como foram sempre os nossos dos chamados preparatórios, os livros que leu foram maus romances franceses, Amanda e Oscar, Saint-Clair das Ilhas, Celestina e quejandos em ruins traduções portuguesas. Leu-os e os releu e, reconhece ele próprio, foi essa leitura que lhe influiu a imaginação, cuja herança atribui à mãe, para se fazer romancista. Mais tarde, já estudante de um curso superior, mas ainda entendendo mal o francês, leu no original e desordenadamente Balzac, Vigny, Dumas, além de Chateaubriand e Victor Hugo. Daquelas primeiras leituras de romances romanescos traduzidos na intenção das damas sentimentais, lhe ficaria sempre o conceito -que foi aliás o de toda a nossa romântica até o naturalismo- que o romance é uma história puramente sentimental, cujos lances devem pela idealização e romanesco nos afastar das feias realidades da vida e servir de divertimento e ensino. É uma história principalmente escrita em vista das senhoras. O romanesco, freqüentemente de uma invenção pueril e de uma sentimentalidade que frisa à pieguice, foi com Alencar, com Macedo, com Bernardo Guimarães e ainda com Taunay, sem falar em menores, a feição predominante -feição que no-lo torna hoje geralmente despiciendo- do romance brasileiro até o Naturalismo ou melhor até Machado de Assis, que ainda em antes deste se libertara desse vezo. Um ou outra exceção, embora relevante, como a de Manoel de Almeida, e do mesmo Machado de Assis desde as suas primeiras novelas e contos, não foi bastante para alterar aquele tom muito no gosto do público. Foi nele, ora mais ora menos acentuado, que Alencar escreveu as novelas e romances com que desde 1860 iniciara, em Cinco minutos, o romance da nossa vida civilizada e mundana e ainda um vago esboço do que viria a chamar-se romance psicológico. Para este