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e celebrada e lhe haver faltado o bom espírito de se não embevecer do seu sucesso, aliás merecido.

Três anos antes do Guarani, com que José de Alencar retaurava nas nossas letras a inspiração pseudonacionalista do indianismo periclitante, aparecia o primeiro volume das Memórias de um sargento de milícias, por «Um Brasileiro». O pseudônimo está revendo a preocupação nacionalista que era ainda por muito a da literatura do tempo e da qual Alencar se vinha justamente fazer o arauto convencido. Também o era o das Memórias de um sargento de milícias, mas depurado do preconceito indianista. Assentava antes numa intuição mais justa do objeto da nossa ficção.

Como Macedo quando escreveu a sua Moreninha, o autor era um estudante de medicina, jornalista, redator do Correio Mercantil, então um dos mais literários do Rio de Janeiro, Manoel Antônio de Almeida, nesta cidade nascido em 1830. Formado em 1857, no ano do Guarani, dos Tamoios e dos Timbiras, pouco depois, em 1861, pereceu num naufrágio indo de viagem para Campos. Com ele, pode dizer-se, naufragou a talvez mais promissora esperança do romance brasileiro. Pouco falta, com efeito, às Memórias de um sargento de milícias para serem a obra-prima do gênero na fase romântica. É original como nenhum outro dos até então e ainda imediatamente posteriores, aparecidos, pois foi concebido e executado sem imitação ou influência de qualquer escola ou corrente literária que houvesse atuado a nossa literatura, e antes pelo contrário a despeito delas, como uma obra espontânea e pessoal. Em pleno Romantismo, aqui sobreexcessivamente idealista, romanesco e sentimental também em excesso, o romance do malogrado Manoel de Almeida é perfeitamente realista, ainda naturalista, muito antes do advento, mesmo na Europa, das doutrinas literárias que receberam estes nomes. Não pertence a nenhuma escola ou tendência da ficção sua contemporânea, antes destoa por completo do seu feitio