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no escritor mineiro mais sensíveis por virem depois destes e quando a literatura nacional já tinha trinta anos de existência e de produção nunca descontinuada. Com uma justa intuição das exigências da composição literária, faltou aos nossos românticos uma crítica que os esclarecesse delas. A que aqui se começou então a fazer, provinha em linha reta da que tinha em Portugal por órgãos principais as Academias e Arcádias e os censores oficiais, uma crítica de hiperbólicos encômios, de campanudos elogios, em que os juízos tomavam por via de regra a forma de equiparações disparatadas com os autores célebres ou de assimilações antonomásticas não menos estapafúrdias. A crítica ali, aliás, oscilou sempre entre o panegírico e o vitupério, a louvaminha e a diatribe. Com a mesma índole passou ao Brasil, e os que a fizeram aqui, nos nossos primeiros jornais e revistas, como o Patriota, a Minerva, o Guanabara, Niterói, movidos do sentimento presumido patriótico de encarecer os nossos valores intelectuais, ainda lhe exageram aquela tendência atávica. A crê-los, esses nossos começos de literatura nacional seriam um acervo de obras-primas. Não fora essa crítica louvaminheira e puerilmente patriótica que teve Macedo por um gênio literário e cada uma das suas defeituosas produções por um primor, os seus seguidores e discípulos e ele próprio, que viveu mais que bastante para emendar-se, teriam necessariamente nos saído mais perfeitos. Essa crítica continuou para Bernardo Guimarães, havido no seu tempo (e ainda hoje pela opinião bairrista) por um grande romancista e escritor. O público parece aliás não lhe ter endossado o conceito, pois o Ermitão, publicado em 1859, não teve até agora mais que essa edição. E os seus outros romances não passaram igualmente da primeira, ao invés das suas poesias, que já atingiram a quarta, o que prova que o público é mais inteligente do que se nos afigura. É esta a lição da nossa história literária, que a crítica indiscretamente animadora não é só inútil, mas prejudicial. Apenas serve para produzir frutos pecos, desencaminhando atividades porventura