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melhor empregadas fora da literatura ou acoroçoando vaidades que se tomam por vocações. Sem embargo deste ensino, continua a ser este o conceito da crítica aqui, quando não é a diatribe ou a simples arrogância de indigesta erudição.

Na romântica brasileira, Teixeira e Sousa havia criado o gênero, iniciado o romance de costumes populares rurais ou urbanos, Macedo o continuara, mas romanceando principalmente a vida burguesa da capital, Manoel de Almeida ensaiara-se apenas, mas com engenho superior ao destes, no romance da vida carioca de um quarto de século antes, segundo o conceito tradicional, com evidente propensão e clara inteligência para a análise dos caracteres e sentimentos. Alencar, depois de se haver ensaiado na novela romanesca da vida social, iniciara o romance do «período da conquista» da «luta em que a raça invasora destrói a raça indígena» com o manifesto propósito de reabilitar o índio da má fama que lhe fizeram os cronistas, o que só idealizando-o extravagantemente podia conseguir14. Este propósito era aliás o mesmo de Magalhães, de Gonçalves Dias de outros indianistas, e o que de alguma sorte o legitimava é que a nação inteira o adotou.

Bernardo Guimarães é o criador do romance sertanejo e regional, sob o seu puro aspecto brasileiro. O meio cujo era, determinou esta tendência da sua romântica. Mas ao contrário do que se devia esperar de escritor tão familiar com o ambiente que lhe fornecia os temas, não se lhe apura nas obras a imagem exata, seja na sua representação objetiva, seja na sua idealização subjetiva. Em toda a obra romântica de Bernardo Guimarães será difícil escolher uma página que possamos citar como pintura ou expressão exemplar do meio sertanejo. Teve ele ambições mais altas que esta pintura de gênero, ensaiou-se também no romance histórico e no de intenções sociais, com o