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reassumira José de Alencar com mais clara consciência e mais firme propósito de o executar. Pensou servi-lo criando o romance da vida indígena selvagem ou misturada com a vida civilizada dos colonizadores, como no Guarani, ou pura ou quase pura na Iracema e depois, serodiamente, no Ubirajara. Mas não obstante o real talento de escritor que neste propósito pôs, e daquelas duas primeiras obras de mérito verdadeiro com que procurou realizá-lo, ele lhe ficou infecundo. Não conseguiu empecer a decadência do indianismo, nem assentar definitivamente o senso nacionalista da literatura brasileira, como o quisera. Não ficou, entretanto, de todo sem repercussão ou influência. Os próprios portugueses Mendes Leal e Pinheiro Chagas se meteram a fazer com O calabar (1863), Os bandeirantes (1867), A virgem guaraciaba (1868), literatura nacionalista brasileira. O estímulo puramente industrial dessas obras insinua-lhes claramente o malogro. Os jovens poetas que desde 1850, ainda em antes de publicados em livros, vinham versejando, não curam mais de índios nem do que lhes concerne. Não são sequer patriotas no sentido em que o foram Magalhães e os do seu grupo. Nem os preocupa ao menos a formação de uma literatura nacional. O seu brasileirismo de todo estreme dos preconceitos nacionalistas, vem-lhe mais do íntimo e é em suma mais racional. São mais subjetivos, mais pessoais, mais ocupados de si, dos seus amores, das suas paixões, dos seus sofrimentos e dissabores, que de literatura ou de política. É menor neles do que fora nos seus antecessores a influência de Chateaubriand, avoengo do nosso segundo indianismo. Pratica-o também pela mesma época um outro romancista, Bernardo Guimarães, mas pratica-o antes por imitação, sem a espontaneidade e menos o talento de Alencar. E sendo melhor poeta que romancista e tendo poetado copiosamente, jamais poetou do índio.

Os poetas da segunda geração romântica possuíram em grau notável a primeira virtude de quem nos quer comover, a sinceridade. Circunstâncias fortuitas de sua vida