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fizeram com que todos eles de fato vivessem a sua poesia ou sentissem realmente o que com ela exprimiram. Talvez por isso não são artistas mas poetas, com o mínimo de artifício e o máximo de emoção, em mais de um deles ingênua, conforme convém à boa arte. O que se lhes pode descobrir de nacional, o seu brasileirismo mais íntimo que de mostra, como o era o dos da geração anterior, é já a revelação da nossa alma do povo diferente, como se ela viera formando e afeiçoando em três séculos de vida histórica e em trinta anos de existência autônoma, a expressão inconsciente do seu sentir ou do seu pensar, indefinidos sim, mas já inconfundíveis. Não são brasileiros porque cantem o bronco silvícola destas terras, ou porque celebram-nas a estas. Não rebuscam temas, nem forçam a inspiração ao feitio indígena. Com exceção de Gonçalves Dias, que é mais da primeira geração que desta, nenhum destes poetas é, ainda parcialmente, indianista, ou tem sequer o propósito nacionalista. Protraem-se estas feições apenas nalgum mais medíocre ou em um ou outro prosador, cujo provincianismo sertanejo os sujeitava mais à influência do ambiente nacional, onde mais vivazes eram ainda as tradições da terra brava e do seu primitivo habitador. Tais são José de Alencar, que confessa a influência do sertão brasileiro na germinação do Guarani, e Bernardo Guimarães, que diretamente dos nossos sertões meio selvagens recebe mais que a inspiração os assuntos de suas novelas.

Criados e educados já de todo fora da influência mental portuguesa, são os escritores desta geração menos portugueses de pensamento e expressão do que os da primeira. O seu brasileirismo, menos político do que o destes, é mais emotivo, mais de raiz, e por isso mesmo, está mais nos seus defeitos e qualidades de inspiração e de estilo, que nas inferioridades da sua manifestação. Conservando muito do sentimento poético português, do senso da saudade