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o qual já os predispunha a sua astenia. Também passara a época dos grandes entusiasmos e vastas esperanças criada pelos sucessos conseqüentes à Independência e ao 7 de abril. A nação entrava na sua existência sossegada e pouco estimulante de quaisquer energias.

I. Álvares de Azevedo

A Lira dos vinte anos e as Poesias diversas, que compunham o primeiro tomo das Obras poéticas de Álvares de Azevedo, eram uma novidade na poesia brasileira, quase igual ao que haviam sido os Suspiros poéticos, de Magalhães, em 1836, e os Primeiros cantos, de Gonçalves Dias, em 1846.

Manoel Antônio Álvares de Azevedo nascera em S. Paulo em 1831. A infância passou-lhe no Rio de Janeiro. De menino revelou grande inteligência e curiosidade mental, estudando e tanto e tão bem que aos dezesseis anos completara com aproveitamento e brilho o curso do Colégio de Pedro II e recebia a carta de bacharel em letras. Mais que assíduo leitor, era um devorador de livros, ainda na idade em que a tal apetite não pode corresponder igual capacidade de assimilação. Em S. Paulo, para onde passou a estudar Direito, distinguiu-se pelo talento com que acaso supria a aplicação e pelo seu precoce engenho poético. A liberdade que lhe outorgava a vida de «acadêmico», numa pequena cidade escolar onde os estudantes tinham graças de estado de que usavam e abusavam, a ausência do constrangimento familiar e as mesmas isenções que lhe conferia o renome de menino prodígio que levara do Rio, influíram-no a viver a vida romântica, realizando as idealizações dos poetas de que se achava saturado, Musset, Byron, Espronceda, George Sand, ou imitando a existência e vezos que lhes atribuía a eles ou tinham as suas criaturas. E pela imaginação ao menos, começou a viver tal vida na qual, com as suas nativas inclinações, entrou muita literatura.