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modelar. Serviu-lhe grandemente o estro esse mal. Na sua desgraça, de que a sua índole de boêmio e a sua doentia sensibilidade de poeta fizera um real sofrimento, achou motivos de inspiração cuja sinceridade se traduz numa forma comovida e tocante, se não excelente. Esta mesma lucrou da sua existência de poeta popular a simplicidade do sentimento e a singeleza da expressão que lhe dão à poesia um cunho particular e não raro delicioso. O título de Trovas que lhe pôs calha admiravelmente aos seus poemas em que a espontaneidade da inspiração e a ingenuidade do sentimento se não embaraçam de dificuldades e caprichos de expressão. Laurindo Rabelo é um poeta no sentido profundo que o povo dá a este nome. Também nenhum outro dos nossos teve a alma tão perto do povo.

III. Junqueira Freire

Luís José Junqueira Freire nasceu na Bahia em 1832 e ali mesmo faleceu, sem nunca ter saído da terra natal, em 1855. Os seus estudos exclusivamente literários, fizera-os com pouco sistema nas aulas primárias e avulsas secundárias da sua terra e em seguida no Liceu Provincial. Completou-os ou os aperfeiçoou depois com a leitura copiosa e variada, principalmente dos poetas latinos e modernos. As suas tentativas críticas não lhe desmerecem essa capacidade e são escritas numa língua em que porventura havia um bom embrião de prosador.

Uma temporã paixão amorosa mal-aventurada levou Junqueira Freire, por desespero romântico, a fazer-se frade. Não tinha nenhuma vocação ou sequer vivo sentimento religioso. Ao revés, dos fragmentos autobiográficos dele restantes verifica-se que era antes um espírito crítico, já meio desabusado, que metia à bulha devoções e crendices acatadas pela Igreja. Ao desespero amoroso a que a vida