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monástica não dera remédio, ajuntou-se lhe logo o desespero da vida, para a qual não nascera, e com ele a revolta contra o seu estado de frade e até contra o estado monástico em geral. Foram os dois sentimentos conjugados que o fizeram poeta e lhe deram a originalidade de ser na nossa literatura, senão também em toda a poesia da nossa língua, o único francamente rebelde a uma das feições mais particulares do catolicismo, e que de o ser tirou inspiração. Ao livro de seus primeiros poemas publicados na Bahia em 1855, pouco antes de sua morte, chamou de Inspirações do claustro. O título é impróprio, pois faz erroneamente supor que lhos inspirou a religião do claustro, quando motivaram-nos o desespero e a revolta contra ele. Sob a estamenha do monge continuou a palpitar o seu coração enamorado, e no claustro mesmo o seu amor, numa ardência de desejos insatisfeitos e agora irrealizáveis sem crime, irrompia em poemas que, no seu estado, frisavam ao sacrilégio. Dessa coleção justamente os poemas mais fracos são os de inspiração presumida de religiosa, O apóstolo entre as gentes, A flor murcha do altar, O incenso do altar, Os claustros e quejandos, em que idéia, emoção, estilo são de lamentável frouxidão. A todos falta a unção que só dá menos uma fé confessada que um íntimo sentimento religioso. Nenhum parece vindo tão do fundo d'alma como as suas imprecações de frade desiludido ou os seus lamentos de amoroso desesperado. A mesma observação cabe aos seus poemas intencionalmente brasileiros. Destes poetas é Junqueira Freire o único a ainda sacrificar ao indianismo e a propósitos patrióticos, embora escassamente e sem convicção nem entusiasmo. Ressentem-se destas falhas os seus poemas (O hino da cabocla, Dertinoa) dessa inspiração, que estão em tudo e por tudo bem longe do modelo evidentemente mirado, Gonçalves Dias, com quem Junqueira Freire teve relações pessoais e a quem dedicou um dos seus poemas. Não aprendeu, aliás, dele a ciência do verso branco, que ao seu falta harmonia e relevo. Os melhores versos de Junqueira Freire são talvez