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Aureliano Lessa, ligeiramente mais objetivo que Álvares de Azevedo, e de um sentimento menos profundo que qualquer dos poetas desta geração, nem assim lhe escapa aos estigmas característicos. Ao contrário, pertence-lhe por todas as feições da sua poesia, sem que tenha nenhuma que particularmente o distinga. Destes poetas secundários desta progênie, o maior, pela sua mais distinta fisionomia, pela cópia da sua produção e ainda pelos quilates destas, é, sem dúvida, Bernardo Guimarães. Este, aliás, pertence-lhe antes cronológica que literariamente, antes por ser do mesmo tempo, ter vivido a vida de alguns deles, poetado conjuntamente com eles, do que por paridade de sentimento ou estro com eles. Não há nos seus poemas -e a sua produção foi uma das mais copiosas do tempo- nem o excessivo subjetivismo, nem o mórbido sentimentalismo, nem a tristeza e dolência dos seus companheiros de geração, e menos ainda a sua ardente voluptuosidade. É mesmo o único deles que não é triste ou que sabe disfarçar a tristeza e mágoa, que às vezes declara galhofando dos seus mesmos pesares ou expondo-os mais a sorrir que a chorar, como preferiam fazer aqueles. É em todo o nosso romantismo o único poeta alegre, o que versejou de cousas alegres e com inspiração e intenção jovial. E versejou geralmente bem, se não com mais arte, com arte diferente da dos seus companheiros e mais variada inspiração. É ele quem reintegra o descritivo na poesia desta geração, que dela o tinha quase abolido. O seu temperamento poético, principalmente considerado em relação à época em que poetou (1858-1864), é mais clássico ou antes mais arcádico, que romântico; não há ao menos nas suas manifestações as exuberâncias e menos os excessos de emoção do Romantismo. Mas também não há o melhor da sua sensibilidade. Bernardo Guimarães teve em seu tempo, e não sei se continuará a ter, mais nome como romancista que como poeta. Não me parece de todo acertado este modo de ver.