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e genealogias o acordar de uma consciência coletiva nos naturais da terra e a satisfação que a si mesmo se queriam dar da sua valia presente e passada, e de que não era tão somenos a sua prosápia. Não obstante todos estrangeiros, portugueses, os seus autores falaram da terra e dos seus naturais com tanta estima e encômio que lhes aumentara a consciência que começavam a ter de si e do seu torrão natal, por eles defendido com boa vontade, resolução, denodo verdadeiramente admiráveis. Não só admiráveis mas fecundos, porque principalmente desse padecer por ela lhes viria a certeza de quanto a amavam e quanto lhes ela merecia o seu amor. O nacionalismo brasileiro dataria daí.

Não há entretanto nos poetas nomeados qualquer revelação formal de haverem sido estimulados por essa exaltação patriótica. É, porém, quase inadmissível que não a tenham ainda inconscientemente experimentado, sentindo-se, como todos os seus patrícios, mais dignos e maiores, levantados como foram os brasileiros no próprio conceito e até no da metrópole, pela galhardia com que em tão apertada conjuntura se houveram. Não deve ser inteiramente fortuita a coincidência do florescimento, mofino embora, da nossa poesia na segunda metade do século XVII sucedendo ao nosso esforço e triunfo nas guerras com os flamengos. Apenas haverá nesses poetas alguma esquiva referência ou alusão a tais sucessos ainda frescos. É, porém, seguramente notável que as primeiras manifestações do nacionalismo brasileiro sob a forma ainda primitiva do apego por assim dizer material à terra, da ufania das suas excelências e belezas nativas, como sob a forma grosseira da animadversão ao reinol, datem justamente de após esses acontecimentos.

Nesse momento também a Bahia, a cidade do Salvador e a sua comarca, berço da civilização brasileira, pátria e domicílio desses poetas, crescera e se desenvolvera, avantajando-se a todos os respeitos aos demais centros de população da colônia. A crer os cronistas coevos, propensos aliás todos, pois