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e, portanto, a confirmação interessante do despontar do nosso nacionalismo.

Cento e quatro anos depois da Prosopopéia de Bento Teixeira, saía à luz em Lisboa outro livro de brasileiro, uma coleção de poemas líricos, com este título, muito do tempo: Música do Parnaso em quatro coros de rimas portuguesas, castelhanas, italianas e latinas com seu descante cômico reduzido em duas comédias, oferecida ao Excelentíssimo Senhor Dom Nuno Álvares Pereira de Melo, Duque do Cadaval, etc., e entoada por Manuel Botelho de Oliveira, Fidalgo da Casa de Sua Majestade. Na oficina de Miguel Menescal, Impressor do Santo Ofício, Ano de 1705, in 4º, 240 págs.

Manoel Botelho de Oliveira é o único desses poetas cuja obra foi publicada ainda no seu tempo. Daí lhe vem a relativa, e ainda assim muito apoucada, notoriedade. Há nessa obra, aliás num só dos seus poemas, o primeiro sintoma de emoção estética produzida pela terra em um dos seus naturais, e literariamente exprimida. E a expressão não é, sob este aspecto, de todo somemos. Entre os poemas do tempo é acaso o único que ainda leiamos com aprazimento.

Segundo a mais antiga e única notícia que do poeta existe, Botelho de Oliveira «nasceu na cidade da Bahia, capital da América portuguesa, no ano de 1636, filho de Antônio Álvares Botelho, capitão de infantaria paga, fidalgo da Casa de Sua Majestade. Estudou na Universidade de Coimbra jurisprudência cesárea (direito romano), exercitando na sua pátria a advocacia das causas forenses por muitos anos com grande crédito da sua literatura. Foi vereador do Senado da sua pátria e capitão-mor de uma das comarcas dela. Teve grande instrução da língua latina, castelhana, italiana, como também da poesia, metrificando com suavidade e cadência. Faleceu a 5 de janeiro de 1711».