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O livro de Botelho de Oliveira, a primeira coleção de poesias publicada por brasileiro, contém, afora os poemas em português, espanhol, latim e italiano (os quatro coros de rimas a que alude o título), duas comédias em castelhano: Hay amigo para amigo e amor-engaños y zelos, das quais a primeira parece havia já sido impressa antes de sair novamente no volume Música do Parnaso.

Não há neste principal documento dos começos da nossa poesia, ou melhor, da poesia portuguesa no Brasil, distinção notável, é pobre de sentimento e inspiração. A língua, como a metrificação, é correta, ainda boa, se bem não escapem ambas aos vícios e defeitos do tempo. O chamado catálogo da Academia de Lisboa inclui a Música do Parnaso nos livros que se haviam de ler para a organização do dicionário da língua, projetado pela mesma Academia. Os poemas, sonetos, canções madrigais e quejandas composições nas fórmulas da poética em moda, ou são laudatórios, endereçados a diversas personagens, geralmente próceres da república, por vários motivos, nenhum bastante comovente para inspirar um poeta, ou são versos de amor, mas do amor obrigatório dos poetas, versos frios, sem paixão, a certa Anarda, a amante proverbial que lhos inspira. Também os há simplesmente galantes, endereçados a outras damas ou a conta de outras: Pintura dos olhos de uma dama, pintura de uma dama namorada de um letrado e quejandos... O nosso cronologicamente primeiro lírico (já que Bento Teixeira presume-se de épico) não foi, pois, senão um correto e vernáculo versejador como os teve a nossa língua às dezenas na mesma época e depois. Esta sua obra poética apenas lhe daria direito a uma menção na história da nossa literatura, como um nome desvalioso e desinteressante à sua evolução não fora o acidente feliz do seu poema A Ilha de Maré, que unicamente o salva de um esquecimento completo e merecido. Ao inconsciente estímulo do nativismo, gerado dos acontecimentos no meio dos quais nasceu e se fez homem, sentiu-se um dia Botelho de Oliveira