Página:Historia da literatura brasileira (Verissimo, 1916).pdf/96

Wikisource, a biblioteca livre

sinceramente tocado pelas belezas e dons do seu torrão natal, e sob esta comoção cantou-o ingenuamente, caso então extraordinário, e não sem lindeza. Aquela insignificante ilha da baía de Todos os Santos, provavelmente o seu berço, não podia conter ela só tanta cousa como ele lhe põe no poema em que a celebra, tantas e tão boas prendas. É a sua Bahia, é o mesmo Brasil, que o poeta embevecido resume na sua ilha natal e que, cantando-a, canta com manifesta satisfação e ufania:

Esta ilha de Maré, ou de alegria que é termo da Bahia tem quase tudo quanto o Brasil todo, que de todo o Brasil é breve apodo.

Dele embevecido faz já, o que é a mesma marca do nativismo brasileiro, ingênuas comparações desfavoráveis a Portugal e à Europa, dando a primazia à sua terra:

Tenho explicado as fruitas e legumes que dão a Portugal muitos ciúmes; tenho recopilado o que o Brasil contém para invejado e para preferir a toda a terra.

Este poema, que pode ainda hoje ser lido com aprazimento, graças ao seu pitoresco, à sua cor local e simplicidade, inicia na poesia brasileira o seu tocante sestro de cantar a terra natal. Meio século depois, Santa Rita Durão pouco mais fará que repetir e desenvolve com mais largo estro e mais advertido sentimento, a inspiração da Ilha de Maré, quando no canto VII do Caramuru celebra as riquezas naturais e produções do Brasil.

Esta emoção, que não é mais a simples impressão da terra do versejador da Prosopopéia, Botelho de Oliveira foi o primeiro a exprimi-la. Outro poeta baiano, o Anônimo Itaparicano, a repetiria no século XVIII, e ela nunca mais desapareceria da poesia brasileira. Antes permaneceria nesta como